Capítulo 2
Fim de tarde pincelado por inumeráveis rachaduras alaranjadas e já exaustas daquele sol desvanecente. Brisas preguiçosas a esfriarem-se, anunciando a noite iminente. Os soldados regozijavam-se com o resfolegar uns dos outros, sorrindo e com lágrimas quentes a banhar-lhes as faces abatidas. Seus corpos tão charcos em púrpura que sequer mais sentiam o odor desagradável do sangue seco em suas peles. Ao redor… Um mundo rubro que movia o pobre e açoitado Besourinho da Esperança de um lado ao outro. Sim… O mar inteiro havia sido colorido por litros incontáveis de sangue do Kraken mutilado e sem vida, a boiar sobre as águas salinas. As ninfas que tanto os atormentaram com seu canto tentador, agora padeciam pateticamente, sufocadas no líquido vermelho que asfixiava a elas e a qualquer outra criatura marítima na região.
- Parece que acabou… - o de pele de urso comentou, fatigado.
- Sim… - concordaram com um aceno.
@novoluar pilotou até que as estrelas os banhassem demoradamente com sua luz quase densa, destacando-se pelo espaço nebuloso, rajado de violeta e azul marinho. Lembranças dos tentáculos que por dias a fio golpearam-nos ainda os atormentavam. Penetrando em suas mentes sem qualquer pudor. Lavaram-se ao mar. Alimentaram-se com o melhor que haviam levado ao barco no dia da partida: queijos defumados, bons vinhos envelhecidos e pedaços de carne seca que desembrulharam e esquetaram sobre brasa.
“Essa daqui é pra quando sobrevivemos” - haviam combinado previamente.
E sobreviveram… Quem diria!
Dormiram como não haviam dormido há meses, naquele sono pesado, que nos toma e embala-nos gostosamente, rememorando a doce infância, quando não há perturbações ou ansiedade. Vaguearam mar à frente até que seu navio encalhasse contra a praia arenosa. Desceram quando o Sol já estava a pino, sorridentes pela vitória obtida.
- E agora? Terra firme, mas… Pra onde iremos? - o próprio capitão perguntou-lhes.
Sem resposta evidente, caminharam. Até evadirem a orla e adentrarem a mata esmeralda. Aproveitando o canto de cada pássaro e o frescor ambiente. Que não durou muito.
- Ouviram isso? - entreolharam-se, alarmados.
Ululos e guinchos indicavam nativos curiosos e potencialmente ameaçadores. Num aceno, dispararam mata a dentro. Corriam o mais veloz que suas pernas lhes permitiam, juntos e com as forças renovadas. Transpuseram troncos caídos e poças de lodo, tomando alguns escorregões, mas recompondo-se rapidamente.
Os sonidos progrediam em intensidade e frequência, indicando uma aproximação irremediável: seriam alcançados.
- Vão nos pegar - alarmavam-se, temerosos.
- Ali - @novoluar apontou.
Avistaram uma edificação pontiaguda e reconheceram ser algo semelhante a uma pirâmide.
Permaneceram a correr com ânimos e fôlego a mil, olhando por sobre os ombros e reparando em…
- Canibais - berraram, apavorados.
Dezenas e dezenas de pigmeus de pele avermelhada perseguiam-nos ferozmente, rugindo e bradando ordens de captura, brandindo lanças e fazendo cantar flechas pontiagudas por sobre suas cabeças.
- Rápido! - o terror crescia, estremecendo-lhes.
E fosse aquela a melhor opção, ou não… Conseguiram adentrar a estrutura convidativa e com muralhas que iam afunilando-se, dando acesso a um único portal que pôs-se a descer assim que o primeiro deles pisou o interior da edificação, disparando o sistema de roldanas que fez baixar a grande porta. O último da tropa teve de esgueirar-se para não ser separado dos companheiros, antes que a entrada fosse bloqueada, junto a ele, um trio de pigmeus também forçou entrada.
- Atacar - o líder ordenou.
Já adestrados em combate, fizeram zunir suas lâminas contra o vento, dando pequenos saltos para evadir aos ataques rápidos das criaturas e decepando-lhes braços, orelhas e tudo o mais que estivesse à frente. Fim do breve combate.
- Todos bem? - Conferiam uns aos outros.
- Onde viemos parar, afinal?
Sorriram, apreensivos, concluindo que era aquela fortaleza escura, ou serem devorados no mundo exterior.
- Isso é uma pirâmide - consideraram em conjunto - certamente terá armadilhas e diversos perigos… Cuidado onde pisam.
Puseram-se a caminhar pela estrutura de luz amena e gigantes rochas lapidadas em quadriláteros, pisando sobre o solo de areia cristalina e fina como pólen, observando cada detalhe ao seu redor. Perderam as contas de quantos corredores haviam entrado e saído, sem qualquer sinal de vida ou algum perigo iminente, mas louvado seja Deus por sua audição! Pois pisadas estrondosas fizeram tremer o solo de uma hora para a outra, e à medida em que erguiam a visão, logo notaram um ser com certamente duas toneladas ou mais, sustentado por dois belos cascos lustrosos. A fera caminhava sobre as potentes patas traseiras, ostentando um corpo musculoso e rígido como diamante, um rosto de touro, anel dourado bem preso às ventas e enormes chifres pontiagudos sobre sua cabeça rígida.
O D E S A FI O
MINOTAURO: uma fera que avança em velocidade mediana ou lenta, mas capaz de desferir investidas imprevisíveis e fatais. Um só ataque do monstro e o alvo é reduzido a uma massa disforme e sem vida.
Mas não somente isso… Sua principal ferramenta é o medo. Ele impõe-se contra o adversário, intimidando-o e forçando-o a parar de lutar, faz seu oponente tremer sobre as pernas vacilantes.
ESTRATÉGIA: Manter-se distante de seus ataques, sem tentar bloqueá-los, apenas evadindo. Ele não atacará todos os dias, nem o tempo inteiro, mas em momentos pontuais, e de maneira extrema; não há como pará-lo, ninguém é páreo.
Seus bufos e raspar de cascos intimida o adversário, provocando-o, convidando-o para a luta e fazendo o mesmo crer que é capaz de competir contra um alvo tão lento. Não acredite, é mentira, nada está sob controle.